segunda-feira, 20 de abril de 2009

Inversão de valores

Depois de um longo período sem postagens, retornamos hoje. Dia 20 de abril, para alguns mais um dia de feriadão, para outros (como eu) não, é mais um dia de trabalho (na qual estou matando para escrever aqui)e aula. Hoje a noite teremos a aula "chapante" do professor Éder e a aula que podemos chamar de descontraída da professora Taís. O que escreverei hoje na verdade queria ter escrito há alguns dias, mas a falta de tempo (e também vontade) me impediu. Bom, o post de hoje segue a linha da postagem do Ben Hur feita em 20 de março na qual o título é "A bala de goma e o Smart Phone", talvez um novo modo de visualizar a realidade que vivemos, seja possível através do que vou falar.
Tenho tido a oportunidade por aproximadamente um ano de almoçar eventualmente no Bourbon Shopping da Avenida Assis Brasil, ali no encontro dos bairros Passo D'Areia e São João, na zona norte de Porto Alegre. Durante o horário de almoço o local é vastamente freqüentado por trabalhadores da região, moradores e estudantes de três escolas (uma delas pública que é o Julio Grau, e duas privadas, João Paulo e La-Salle São João). Já tendo informado de maneira generalizada o perfil dos frequentadores deste local posso seguir então. Almoço nesse local algo no entorno de 10 dias por mês, sempre em dias úteis e normalmente chego no shopping por volta das 12:00 e no máximo 12:15, saio entre 12:40 e 13:00. Dessas tantas vezes que almocei lá nesse ultimo ano, quase sempre na calçada a beira da rua, ao lado da porta (ou dentro de uma cabine telefonica em dias de chuva) encontra-se uma senhora, com idade avançada, não sei precisar a idade, mas arriscaria dizer que próximo dos 60 anos, sentada no chão. A vestimenta é sempre parecida, uma touquinha e sua roupa de lã no inverno e no verão, no sol sem proteção nenhuma, ela fica ali pedindo qualquer coisa para quem passe por ela, nunca reparava se ela recebe ajuda ou não. Pois bem, um dia ainda no ano passado notei que aquele local estava vazio, ela não estava lá e por alguns dias isso aconteceu, passava ali no local estratégico da velhinha e nada, eis que um dia na saída vejo outro pedinte, no local característico dela, era um cachorro vira lata, pequeno e simpático até, por enauqnto não tem nada demais nisso, mas para meu espanto ao olhar ao redor do bixo tinha de tudo, era quase uma oferenda de tanta coisa que tinha, o vira-latas tava até perdido no meio de salsichas, batatas-fritas do McDonalds, esfirras do Habibs, biscoitos, ração, iogurte e outros diversos alimentos que não lembro agora, impressionante, posso nunca ter reparado que a velhinha de todos dias recebia algo ou não, mas com certeza jamais houve com ela algo parecido com o que o vi naquele dia, fiquei de certo modo assustado com tamanha preocupação que as pessoas tiveram com o cusco, todos passavam e brincavam com ele, alimentavam e faziam caras e bocas para o simpático totó, nem o guaipeca parecia acreditar muito naquilo, pois não sabia se brincava com as pessoas, ou se ele comia. Comentei com a Paula (minha companhia de todos esses almoços) e falei que observaria como era o tratamento com a velhinha se ela voltasse, pois no outro dia lá estava a sofrida vovózinha, com a mão estendida e todos simplesmente passavam, se pudessem nem desviavam da coitada, isso ocorreu todas as vezes seguintes na qual reparei, o cachorrinho não voltou mais e a velhinha sempre lá e sempre de mãos vazias. O que me motiva a escrever, é que após passar as férias escolares e o recomeço da vida na cidade de Porto Alegre a situação continuava a mesma, continuava como sempre, até que na semana passada ao passar por ali duas vezes pude observar que a vózinha vem tendo uma melhor sorte, uma dos dias ela tinha uma porção de sacolas com frutas e verduras, e no outro dia a velha senhora saboreava um apetitoso Big Mac com batatas e refrigerante, ela tinha um sorriso que nunca tinha visto no rosto, um semblante de felicidade naquela senhora que a tornava mais simpática que de costume.
Com certeza é preocupante a inversão de valores que há na nossa sociedade, o que o Ben Hur escreveu a exatos um mês sobre o menino vendedor de bala de goma, tem sim, muito a ver com a história que conto dessa velhinha, não serei tolo aqui de dizer e acreditar que um ano, essa é a unica que vez que alguém deu algo pra ela, se ela não recebesse nada, com certeza teria mudado de local, usei este caso para ilustrar o que é comum e como virou banal certos acontecimentos, o que vemos nas ruas é a desconfiança e o medo de se aproximar de pessoas que precisam de ajuda, em resumo o que posso concluir é que sobre a dignidade do ser humano pode ser menos confiável que a de um cachorro para grande parte das pessoas. Isso pra mim é simplesmente preocupante.

Abraços e um bom feriado a todos.







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