sábado, 12 de setembro de 2009

O folclore é hardcore*

Agora são 6:40 da manhã, estou acordado fazem duas horas já, to com febre e sintomas de uma gripe que não me deixam dormir, decidi vir para o PC passar o tempo e esperar a hora de ir pra aula, depois de uma madrugada sem chuva, neste exato momento volta bater água. 
Mesmo que o primeiro motivo de eu vir aqui seja para fazer o tempo passar, quero falar sobre um assunto que já faz algum tempo que adio e não abordo. Os luxiuosos são parte de uma turma de formandos no curso de história, isso quer dizer que, no dia 15 de janeiro teremos mais uma turma de estudantes ingressando no mercado de trabalho, turma que possivelmente serão responsáveis pelas aulas de história, dos seus e meus filhos, sobrinhos, netos, irmãos e um grande número de crianças que terão sua formação conduzidas por nós. Até aí nada de mais, o problema é que mesmo estando em 2009, mesmo com a abordagem que hoje temos no nosso curso, mesmo com a revalorização de diversos temas e aspectos existe um "ranso"  (que me parece ser) antigo nessa "nova geração" de professores que se foramarão, isso não se restringe ao IPA, vejo que parece ser um tanto que generalizado. O "ranso" na qual me refiro é relacionado a cultura popular ou folclore, por parte desses professores, há uma dificuldade de reconhecer, ou simplesmente se despir de proconceitos e enxergar que certas manifestações culturais também podem ser classificadas como arte, cultura, representação e identidade, algo que não fique restrito a manifestações ditas eruditas apenas, ou até mesmo relacionadas a uma minoria não-popular. 
O assunto é amplo e procurarei agora desembaçar um pouco e falar mais diretamente sobre o que realmente pretendo com essa postagem. Nos ultimos 5 semestres esse assunto muitas vezes foi debatido em aula, sobre a legitimidade de expressões populares, serem ou não arte, cultura ou que simplesmente acrescente algo para a sociedade. É engraçado como existe um preconceito com as manifestações populares relacioandas a generos musicais (samba, funk e rap), arte (graffiti), eventos culturais (carnaval e futebol) e diversos outros como a diferença que se tem ao achar o São Paulo Fashion Week um máximo, mas a maneira de um favelado ou favelada se vestir ser brega ou em nossos termos "bagaceira". Mesmo temáticas populares tendo cada vez mais espaço em meios academicos, na mídia e tendo maior aceitação da sociedade, existem futuros professores de história que acham que isso não acrescenta nada, que é baboseira, lixou cultural, ou como dizem seus pais "coisa de vagabundo". Eu fico abismado em saber que ainda hoje existam pessoas supostamente esclarecidas que pensem isso. Pegunto: Por que a música clássica acrescenta algo e o samba ou funk não? Por que esportes como tênis e hipismo só ficam com a parte boa de "ser um esporte" e o futebol é o "ópio do povo" (vejam, a própria expressão revela um preconceito relacionado a uma droga)? Por que babam por uma peça de Shakespeare e tem tanto preconceito com o carnaval carioca? Um monte de ferro retorcido e um borrão de tinta numa tela é arte, mas graffiti é que é um monte rabisco que não diz nada?. Se você é um pouco mais mente aberta, deve tá achando um aburso o que escrevo e as comparações que faço, mas para alguns existe resposta para isso que se justifique. O que não é popular é erudito, o que é popular é folcore simplesmente.
Recorri ao dicionário e procurei a definição de folclore e obtive o seguinte resultado: 
FOLCLORE:  
-Ciência das tradições e usos populares. 
-Conjunto das tradições, lendas ou crenças populares de um país expressas em danças, provérbios, contos ou canções.
-Cultura popular de um povo.
Como diz o dicionário é do povo, é do senso comum, ou seja da maioria. Mesmo sendo simplista ao recorrer um dicionário já quebra toda possível interpretação gorsseira que se pode ter em relação ao folclore, pois funk faz parte da cultura, futebol e samba por exemplo representam grande parte das manifestações culturais que identificam o país no resto do mundo, quem representa melhor o Brasil lá fora, a orquestra sinfonica de São Paulo ou o samba e carnaval? Quem representa uma imagem mais positiva e mais abrangente do que gosta o brasileiro, o futebol com seus jogadores e sua seleção ou a equipe de Polo?
Isso que escrevo parece já chover no molhado para boa parte dos futuros professores, mas infelizmente para alguns não, não acho certo, mas compreendo que professores de 50 anos de carreira tenham esse "ranso", afinal já ouvi que a "Geografia é o local onde ocorrem os fatos e a história diz quando foi e como foram os fatos", mas na minha opinião é lamentável que com tudo que se veja  num curso de história e o que exite de bibliografia, gente de "sangue novo" pensar  assim. Ainda bem que o panorama está mudando e hoje se trabalha tranquilamente temas "hardcore" como futebol, samba, carnaval, funk e toda essa coisa de gente pobre.


EM TEMPO: Postei antes do mestre Chassot, que falta de sono.


*Expressão tirada da música "Instinto coletivo" da banda O Rappa.

Um comentário:

  1. Caro Professor Luxiuoso,

    Muito apropriado a tua postagem, embora entenda que somos parte de uma turma diferenciada de historiadores, aonde me refiro a nós Luxiuosos e alguns colegas ,sem falsa modestia, pois temos a nossa dedicação como testemunha e o discursso como argumento e alguns mestres de ratificam a nossa liberdade de pensamento e a capacidade de libertação dos grilhões do preconceito, das amarras da radicalização e das algemas da imbecilidade. Por isso não deixo de agradecer todos dias a conviveência com os amigos Luxiuosos, os ensinamentos do Mestre Chassot e a alforria intelectual dada pelo amigo e Mentor Éder Silveira.

    Ben Hur

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