sexta-feira, 4 de março de 2011

Carnaval é alienação para quem quer

Todo ano acontece a mesma coisa, quando é chegado o carnaval sempre surgem centenas de discussões sobre o significado, utilidade e o que representa o carnaval (principalmente do RJ com as Escolas de Samba). Quase sempre vejo opiniões preconceituosas sobre o assunto e com argumentos simplistas. Eu tenho uma opinião que muitos não concordam. Falar de carnaval não é fácil pois envolvem muitos elementos, e também não sou estudioso ou especialista no assunto, muito embora, é um tema que me desperta muita curiosidade e na qual aprecio muito saber sempre mais. 
Fazendo uma analise superficial sobre o carnaval atual eu vejo uma goleada de argumentos favoráveis ao modelo blocos/escolas de samba, que se tem com mais "força" do sudeste até o nordeste do Brasil. É impossível fazer sequer um apanhado aqui, sobre a história que origina esses carnavais nos dias de hoje, mas que bastando procurar um pouco, pode-se ter uma noção da riqueza do tema. Atualmente o carnaval pouco tem a ver com o modelo que o originou é verdade, mas isso se dá pela adequação a realidade contemporânea, são outros tempos, outras demandas e outro jeito de viver e/ou levar a vida. Mas na minha opinião é inegável que o carnaval (mesmo que atualmente sendo muito mais um negócio do que qualquer outra coisa) contribui muito mais do que prejudica a sociedade ou o país. Alguns aspectos são importantes ressaltar e lembrar para quem não consiga ver certas contribuições. É significativo o número de turistas que chegam do exterior para "comprar" o carnaval, pra  um país com bastante vocação pro turismo o carnaval é mais um atrativo, além do turismo interno, que tem um aumento absurdo nessa época também. Com isso ganha o comércio, rede hoteleira, empresas de transporte, serviços e até mesmo os trabalhadores informais. O carnaval carioca é uma das imagens mais positivas do Brasil para o mundo, muito noticiado e assistido por milhares de pessoas, levando uma imagem positiva do país principalmente no exterior. Negligenciar que por trás de alguns "excessos" existem coisas positivas é ser simplista, nós historiadores devemos dar mais atenção a isso, afinal o carnaval de escolas de samba são mergulhados na "história", seja de lugares, pessoas ou de um determinado espaço de tempo. Como exemplo no RJ podemos citar a União da Ilha que vai contar os mistérios da vida passando pelo navio Beagle de Charles Darwin ou a Portela que vai contar a importância que a navegação teve através do tempo. A história é contada de forma lúdica, ferramenta que ganha muito mais qualidade quando transmitido pela tv e narrado para  o espectador, sobre o significado de uma fantasia, carro alegórico ou enredo. A pena é que pela TV se perde o fator "festa", não imagino ninguém sambando e cantando na frente da TV como se estivesse em um sambodromo. Também é válido ressaltar que o carnaval é uma manifestação cultural e popular, na medida que comunidades (algumas vezes carentes) se envolvem na construção de algo gigantesco e na comemoração do carnaval durante os desfiles de sua escola de samba e blocos, ali se representa a capacidade de organização, mobilização, transformação e poder de uma comunidade. Tem outra questão importante também, as escolas de samba atuam o ano todo em comunidades (na maioria pobres), com um belo trabalho de inclusão e responsabilidade social, um legado que vai além dos desfiles na avenida e onde as vezes o poder público não atua como deveria. Sem contar que uma escola de samba conta com uma "orquestra" de centenas de ritimistas, que embalam cerca 3.000 pessoas para atravessar a avenida e botam pra dançar outras tantas na arquibancada, é no mínimo contagiante. Ao escrever esse texto surgiu-me uma inquietação, será que se o ritmo fosse outro teria menos preconceito? Confesso que não sei.
Mesmo envolvendo cifras milionárias (boa parte delas públicas) para "fazer acontecer" e não tendo quase nenhum caráter popular nessa parte, o carnaval aquece o mercado de trabalho já que emprega muita gente, desde um artesão e costureira até algum residente próximo ao local dos desfiles (alugando banheiro, vendendo comida, alugando "vestiario" e até "chapelaria"), no meu modo de ver isso tudo é um investimento válido e quase garantido de retorno satisfatório. É a força de trabalho humana que transforma o carnaval.  
Fazendo uma reflexão rasa dá pra perceber inúmeros argumentos positivos no "carnaval sem vergonha" transmitido na tv ou que movimentam milhares de pessoas no nordeste. Existem argumentos sólidos contra obviamente, como alienação (discordo em muita coisa nisso), excessos, aumento da violência, sujeira nas ruas e outros, mas na minha opinião o carnaval mais contribui do que prejudica, falo do carnaval de blocos ou escolas de samba nesse caso. 
Normalmente quem é contrário ao carnaval tradicional, são os mesmos que se envolvem com um modelo de carnaval que é comum aqui no sul. Muitas dessas pessoas passam o feriadão todo na praia (gaúcha ou catarinense), fazendo festas em casas noturnas todas as noites possíveis. Coisas que não precisam de um feriadão de carnaval pra isso, se faz todo o fim de semana o ano todo e com conseqüências que vemos todos os fins de semana do ano inteiro. Incontáveis mortes no transito causados em sua maioria por excesso de bebidas ou drogas é uma delas. Não condeno quem passa o carnaval desse modo, mas é um pouco hipócrita criticar o carnaval tradicional porque se usa pouca roupa, porque é depravado ou porque é alienação da realidade. Afinal de contas nessas festas de carnaval aqui do sul não existe nada de "não alienação", e talvez a  principal  diferença é que não se passa o tempo todo sem roupa, somente em "alguns momentos da noite" (se é que você me entende). 
Resumindo, acredito que qualquer modelo de carnaval tem fatores bons e ruins, mas na minha opinião é muito mais produtivo e gera muito mais retorno carnaval tradicional (blocos e escolas de samba) do que os de "casas noturnas", vê somente alienação no carnaval tradicional quem quer. Parece que uma coisa o carnaval ainda se assemelha com suas origens, um caráter de marginalidade, pois é visto como coisa de pobre, bagaceiro ou de mal gosto. Todos tem o direito de gostar ou não gostar de algo e até de achar sem graça escolas de samba, cansativo, repetitivo e o que mais bem entender. Mas criticar somente por criticar acho exagero.
Dizem que o ano começa depois do carnaval, assim espero. Quarta feira de cinzas completo 26 anos, no aguardo e trocida de uma resposta positiva a mim da 28ª CRE sobre uma vaga para uma escola em Cachoeirinha. Se conseguir a vaga começo o ano muito bem.

Abraços e bom carnaval a todos que desfilarão ou não, e também a todos aqueles que passarão em casa, sem um tostão furado no bolso, como eu.

Carro alegórico da Beija-Flor, campeã de 2007 (Fonte: Site oficial Beija-Flor)

6 comentários:

  1. Eu, particularmente, não sou muito fã de Carnaval, pra mim a alegria é valida mesmo pelo feriado do que pela festa. Sinceramente, acho que é muito valido a estrutura que se forma entorno desse evento, acho que alguns desses valores poderiam ser melhor aproveitados, mas por outro lado traz emprego e alegria para a população.
    Bom Carnaval a todos.

    PS - Eu acredito que o ano começa após oeste feriado, prepare-se!

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  2. Oi Paulinha, espero mesmo que o ano comece de fato após o carnaval, seria ótimo logo após o "ano novo" receber uma ótima notícia. Sobre o carnaval, tu gosta é da farra que eu sei hehehe.

    Beijos!

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  3. Samba e Consciência
    Samba e Conciência. Parte 1
    Algumas vezes somos brindados com sambas de uma riqueza melódica ímpar. E por vezes essas letras trazem consigo um conteúdo histórico-político extraordinário.
    Irei exibir aqui alguns destes exemplares.
    http://amahet.blogspot.com/2011/03/samba-e-conciencia-parte-1.html

    Samba e Consciência. Parte 2
    Sensacional o video de Raquel Sheherazade, jornalista paraibana que trabalha na TV Tambaú de João Pessoa., conhecida por dar sua opinião de uma maneira mais direta.
    Neste vídeo critica o carnaval e como ele representa a alienação do povo e se consolida como fonte de lucro de mega empresários e pseudo artistas.
    http://amahet.blogspot.com/2011/03/samba-e-conciencia-parte-2.html

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  4. Já vi o vídeo da jornalista em questão. Tem alguns pontos que realmente ela tem razão, mas concordo com muito pouco do que foi dito por ela. Assim como expus no texto as festas de carnaval trazem alguns poucos danos e prejuizos sim, mas ainda assim acho que existem mais pontos positivos do que negativos nessa festa.

    Obrigado pela postagem.

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  5. gostei do testo porém você escreveu com muita opnião e poucos fatos

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  6. É um bom texto, mas faltou você provar que sua opinião está 'certa', mas ficou bom mesmo assim

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