Termina o carnaval e só aí que o ano começa de verdade, pelo
menos é o que todos dizem. Em parte essa fala é verdadeira, pois o ano letivo
das escolas públicas do RS retomou suas atividades no dia 27 de fevereiro, nós
professores, um pouco antes no dia 25. Você que é pai, aluno, professor ou simplesmente
faz parte da comunidade escolar deve pensar: Com dois meses de “férias” deve
ter tido tempo de sobra para as escolas se organizarem e começar o ano com tudo
ajustado. Tempo teve, e de sobra. Porém entre tantas mazelas que atingem a
educação pública (principalmente do RS), que já estamos carecas de saber, mas
que é sempre bom frisar, como salário abaixo do que a lei determina pra
professores e funcionários, falta de investimento em infra-estrutura (inclusive
física), falta de professores, profissionais desmotivados... Enfim, a lista é
enorme, e após quase 1 ano e 5 meses na função constatei de vez algo que já
pensava. Existe outro problema, que talvez não seja o maior de todos, mas também
é determinante para essa realidade. A falta de profissionalismo, que pior do
que de alguns educadores, vem das direções de algumas (talvez todas) escolas. Vamos
entender o porquê disso.
O quadro de professores das escolas teve que sofrer alterações
com a chegada dos nomeados do último concurso, até aí tudo bem, é correto,
justo e inevitável. O problema todo está no critério para as trocas. Na verdade
nem sei se existe algo legal sobre isso, mas desde que cheguei às escolas que
trabalho (ou trabalhava), ouvi das equipes diretivas que o ÚLTIMO profissional
contratado é quem deveria ceder o lugar ao profissional que chegasse nomeado. Concordando
ou não, a regra era essa. Sim, ERA. Por que agora que teve necessidade de fato
de mexer no quadro de professores, o que se vê são diretores mexendo como bem entendem, conforme suas conveniências e principalmente
de forma política, quase que fazendo terrorismo com os profissionais. Ou seja,
o que é feito é a acomodação dos “apadrinhados” por outros interesses que nada
tem a ver com a tal regra de tempo de casa, muito menos o lado pedagógico, com
a qualidade e comprometimento do profissional ou coisa do tipo. É uma questão
pessoal e principalmente política. Resumindo, a escola que seu filho está, ou
que você mesmo está, a situação é a seguinte: O professor chega na segunda feira
e descobre que sua carga horária reduziu pela metade (seu salário também), que
muitas vezes essa redução não cumpriu algumas “regras”, muitas vezes o
profissional não sabe nem se continuará empregado. Tudo isso de uma forma
abrupta e sem uma definição concreta sobre a situação e o futuro do professor,
se terá possibilidade de ampliar a carga horária, se vai pra outra escola, qual
disciplina vai ministras suas aulas, muito menos séries e turmas. Dois dias após
isso tudo, chegam os alunos, sem saber quem são seus professores, sem horário
definido, algumas salas em obras e muitas vezes sem professor de alguma
disciplina. Mas acima de tudo um professor que não sabe o que vai acontecer com
sua vida, sem dormir de preocupação e principalmente desmotivado e indignado
com a forma que isso tudo é conduzido. Tudo isso pela falta de profissionalismo
que a área da educação é conduzida, muitas vezes parece que a escola e a extensão do pátio de casa para alguns, mas não é. Prepare-se, seu filho vai voltar pra casa
no meio da manhã alegando que foi liberado mais cedo porque o professor não
compareceu e pode chegar ao fim do ano com uma série de problemas nos estudos. Porque
não se pôs em prática a tal regra (que acho absurda), muito menos se valorizou
o bom profissional. Professores faltosos, enrolões e muitas vezes incompetentes
estarão em sala de aula, porque a direção da escola quis, porque é do mesmo
partido político ou simplesmente por ser uma pessoa que não incomoda
(leia-se:questiona).
Levo comigo o seguinte, só posso exigir meu direito se tiver
com minhas obrigações em dia. E
a nossa classe está longe de estar em dia com suas obrigações, talvez mais longe
do que o governo em relação a investimentos na área, inclusive na remuneração
dos professores. Não sou conivente com isso, mas tenho vergonha de infelizmente
estar dentro disso tudo.